sábado, 12 de janeiro de 2008

Surrealidades

A surrealidade é uma particularidade de quem não tem noção da realidade e quer impor a todo o custo as suas necessidades e ideias sem qualquer fim objectivo a não ser a realização pessoal de um sonho perdido. É preciso cair na terra, mesmo que isso doa, mas ajuda a perceber o mundo e as suas condições e regras do jogo, porque senão, seremos esmagados e o verdadeiro peso da verdade e constatação nos matará. O seu orgulho, o da surrealidade, fará com que perca tudo, num único momento, ou muito lentamente, criando uma bolha recheada de espelhos e produtos de beleza, uma verdadeira forma de cultivar o ego, um Narcisismo que nos fará afogar no mar da desolação e da guerra futura, o medo, a aflição, porque um dia a escada cairá e o abismo abater-se-á sobre nós, até que mais ninguém se lembre.É preciso não confundir esta surrealidade com a surrealidade criada pelos artistas nos anos 30 e que persiste até hoje. Talvez alguns deles tenham padecido desta terrível doença provocada pela primeira, e por isso não apareçam nos anais da história, uma forma de vida que se abateu sobre eles, mas a outra, a que transfigura, essa é aquela que todos nós deveríamos seguir, conseguir ver e trabalhá-lo. Este segundo foi criado ao longo de gerações, amamentando mitos e lendas que nos faziam sonhar com uma utopia inalcançável e distante, que nos dava uma lição de moral, o cultivar da ética da vida e do brotar dos nossos valores, dos mais negros e obscuros, aos brancos como linho e transparentes. Alguns passaram essas formas para telas, partituras e papéis, mas a verdadeira mensagem ficou sempre com eles, incapaz de ser transmitida, porque ainda a linguagem do verdadeiro pensamento, é ainda hoje, muito pouco explorada, é só compreendida por alguns, deixando os que a desprezam e humilham de fora.Este desprezo e “isolação” faz com que os agricultores destes campos férteis, tenham que criar bonecos de pano, e plástico, e madeira, e arame, para afugentar os pássaros negros que querem comer as cariopses destas novas formas de observar e conduzir a imaginação, apenas. Algumas são consumidas pelas obscuras aves pré-clássicas, para quem só o velho e longínquo passado, já ido, conta e tem valor.

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