sábado, 12 de janeiro de 2008

Crise? Qual crise?

Bem, no último casamento a que fui, o celebrante fez um discurso que me faz reflectir um pouco sobre a questão. No fundo, ele falou das crises que assolam o Homem, e falou daquela que Portugal vive. Então, na opinião do sacerdote, que tipo de crise existe em Portugal? Na sua opinião, económica não é com certeza, porque nunca houve tanto dinheiro a circular nas mãos dos lusos como hoje em dia, e que o nível de pobreza é muito inferir ao de à 30 ou 40 anos, em que uma sardinha dava para a refeição de cinco pessoas ou mais, em que não havia telemóveis, nem televisões em todas as casas, que não havia o enorme vício do tabaco como há hoje, em que não existia o Rendimento Mínimo Garantido, agora com o pomposo nome de Rendimento Social de Inserção.
Mas o padre continuou, e questionou-nos se era uma crise de Segurança, e a sua opinião era que não, porque nunca houve tantos meios de vigilância e nunca houve tantos polícias e guardas como hoje, mas que também nunca houve tantos ladrões e métodos de por a mão ao bem alheio.
Então a crise é a nível do Ensino? Não, porque nunca houve tantas escolas, tantos computadores, tantos professores, tantos meios de levar as crianças à escola, tanto acesso à rede de informação global (Web), tanto conhecimento e acesso a este como existe hoje.
A crise é na Saúde? Não, porque nunca houve tantos hospitais, nunca houve tantos médicos, nunca houve tantos enfermeiros e tantos métodos de curar muitas doenças, como há hoje. Antigamente, só se ia aos Hospitais quando o problema era realmente grave, enquanto hoje, se tivermos uma dor de dentes, em vez de ir ao dentista no dia seguinte, chamamos os bombeiros às quatro da manhã para nos levar ao hospital. Também no passado se morria de pneumonia, de gripe, com uma constipação mal curada, como sífilis, hoje em dia todas estas doenças têm cura.
Mas então é uma crise política? É, mas não no sentido que estão à espera que eu fale, porque vivemos num Estado Democrático e Social, com uma Constituição, com Liberdade, pertencente à União Europeia, onde deixamos o «orgulhosamente sós» do professor Salazar para o «vamos a todas» dos governos do doutor Durão Barroso e do engenheiro Carvalho Pinto de Sousa (apelidos de José Sócrates).
Mas afinal em que crise vivemos? Aí está a questão a que devíamos ter respondido há cerca de 6 anos, mas que adiamos. A crise em Portugal, e que um pouco por todo o mundo se vive, é a de uma crise nunca antes vista de Valores e de Consumismo. Uma sociedade para funcionar correctamente, entre muitas coisas, necessita de valores base, que a atravessem transversalmente, que exprimam um conjunto de regras que funcionem como alicerces, forças intrínsecas que a possam fazer crescer e movimentar-se para o Futuro. Estes valores diluíram-se com os tempos, e a sociedade em que nos encontramos vive de olhos vendados, sem conseguir responder às necessidades de todos, traduzindo-se em injustiças sociais, formas incorrectas de usufruto dos serviços das Instituições da República, em falta de motivação para o aprofundamento cultural e intelectual como profissional, ingredientes que fazem com que este bolo tenha como sabores o desemprego, a falta de condições nos hospitais e restantes serviços públicos, a possibilidade dos alunos agredirem os professores, a formação de bandos, etc.
Outra crise, mas relacionada com a economia é o facto da globalização começar a apresentar alguns aspectos negativos, como o Consumismo Desenfreado, e o Capitalismo Selvagem do «se não dá lucro, fecha-se e manda-se os funcionários para o Fundo de Desemprego», transformando o Organismo Central de um País, a Administração Pública, num Estado Social que não consegue dar vazão a tantas solicitações, em vez de se concentrar naquilo que lhe diz respeito e que lhe compete.
São estas, afinal, as crises em que vivemos, e que tão cedo não nos vão largar.

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