sábado, 12 de janeiro de 2008

Neologismo do Prole (parte 1)

De certo que já me ouviram, nem que por uma única e pequena vez, falar dos Proles. Bem, na tentativa de esclarecer a diferença de conteúdos no que toca a estas palavras homófonas e homógrafas, uma pertencente à Língua Portuguesa e outra um neologismo, resolvi divulgar a minha definição.
Ora, segundo o Dicionário da Língua Portuguesa (Porto Editora, 2001), a palavra Prole significa descendência, progénie, os filhos ou sucessão, derivando da palavra Proletário, cuja a sua definição se traduz por aquele cujos recursos provêm apenas do seu trabalho manual ou individuo pobre que vive do seu trabalho mal remunerado. Esta expressão era utilizada na antiga Roma e na Revolução Industrial para classificar o funcionário de uma qualquer empresa ou fábrica, que vivia num casebre e tinha um rancho de filhos que seguiam as suas pisadas. A minha definição é diferente, que desenvolvi depois de ler o livro 1984, em que se fala da questão das proles.
A minha definição para o neologismo Prole é a seguinte: um prole é um individuo que nasce numa família da classe média baixa, ou na classe baixa, fora dos grandes centros urbanos, que não estuda, só gosta de jogar futebol, acaba os seus estudos entre o 7º ano e o 9º ano e vai trabalhar para uma oficina de automóveis ou para um café cuja especialidade são caracóis, orelha de porco, torresmos e etc., isto quando o seu destino não é as obras ou algo relacionada com a construção civil; é um profundo adepto do boné com a pala para trás ou à banda, tem por vezes uma barba que se traduz por um leve traço negro, quixotesco, que vai de uma patilha à outra, passando pelo queixo onde bifurca para um bigode ridículo; a sua farpela é uma T-shirt com dizeres como “Oficina de pintura e bate-chapa do Quim-Zé”, no Inverno, ou troco nu durante o Verão; à noite, quando vai sair, usa uns jeans da Salsa ou Modalfa, e umas camisas com riscas diagonais de cores berrantes, com um relógio dos chineses a imitar um Swatch Scuba da colecção lançada em 2005, com um cinto dos marroquinos chatos como um raio, cabelo com gel com popas ou cristas néscias, e para rematar, um fio de ouro com uma crucifixo, sendo a moda agora um terço fluorescente fabricado na incrédula industria dos santinhos de Fátima, valha-nos Deus, Virgem Santíssima…
Mas ainda não acabou, pois a sua paixão é o automobilismo quitado, ou seja, o tunning, onde ouvem música em altos berros, martelada de preferência, ou aquele ritmo electrónico com base nos timbres africanos, com o qual atacam junto das escolas básicas do 2º e 3º ciclo em busca de pitas que se armam em boas, que começam nas andanças do fornicanço e do fumar quando têm apenas 12 ou 13 anos, numa tentativa de ostentação e de maturidade que nunca atingirão, acabando casadas à força com um dos proles que a engravida, isto quando não ficam mães solteiras e a trabalhar em bares como o Trevo, o Excalibur, o Tasco, e outras desses clubes nocturnos da luz vermelha, sobre os quais não faço mais publicidade, onde os proles mais velhos se juntam para esquecer a mulher obesa que têm lá em casa, sonhando com nacos de carne que mais parecem bicicletas: porque todos já deram um voltinha com ela.
Depois de casar, o prole passa férias no Algarve, onde aluga um espaço num parque de campismo ou um T2 para os 3 filhos, para sogra, para canário e para o canito, isto é, está claro, se não conseguir vaga no parque de campismo da Trafaria, esse paraíso turístico, à beira Tejo, com uma vista gloriosa para os silos de aço inoxidável e para a linha de Cascais, onde um dia, quando ganharem o Euromilhões, sonham comprar um T3, com vista para a Marginal, nem que seja só da janela da casa de banho. Mas voltando ao inicio do parágrafo, depois de casar e de passar férias no Algarve em alternativa ao parque de campismo da Trafaria, o matrimónio deixa descorar o físico de cacifo de trolha e entra no vício da mini, que dá aquela barriguinha de cerveja que nunca mais o deixa visualizar o, agente sabe, a não ser pelo espelho. Ao fim de semana, quando não vai para o café jogar à sueca e falar de suecas, veste o belo do fato de treino listado de verde e cor-de-rosa e ruma ao sítio onde limpa a vista do dia a dia: o centro comercial.
Quando os seus filhos já estão crescidos, a Cátia Vanessa e o Bruno Cristiano, o Prole fica orgulhoso por ver que essa tal coisa de genes funciona mesmo, ou seja, seguem as pisadas do pai e da mãe, ou seja, tornam-se também eles Proles – a Natureza é poupadinha e não quis gastar muitos neurónios em cérebros que à partida só servem para assegurar as suas funções vitais.
Em muitos locais da pátria lusa os Proles, os que entram na categoria do neologismo, são chamados de Azeiteiros (Norte) e Malveirão (região Noroeste do Distrito de Lisboa). Este texto pode ser muito sarcástico e negro mas eles andam por aí, eles existem, porque se não fossem eles, teríamos um país afogado em licenciados em tudo e mais alguma coisa, e no fundo, é necessário alguém para acreditar nas promessas do Governo da República, alguém para votar no PCP e ir aos comícios do Alberto João Jardim, alguém que não tem ambições para o futuro além de ver o seu clube ganhar a primeira liga, pessoas cujo o único livro de leram foi o do Mourinho, e mesmo assim não passaram do primeiro período de Prefácio. Em fim, pensam como podem, porque só assim se explicam as suas vidas tristes, sem interesses, sem ambições, ou seja, não são humanos mas sim seres vivos irracionais, que não vivem aquilo para o qual a sua natureza os criou, sendo apenas meras formigas, com uma rotina fixa, fútil, isto é, secante.
Um dos meus grandes desgostos é viver num dos seus territórios, a região norte sintrense, mas enfim, aprendi a compreender estas mentes vazias de cultura, porque afinal de contas, temos que ter ambições, nem que seja as de tentar não ser como eles.

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