sábado, 12 de abril de 2008

Foice para uns, Martelo para outros

Ao longo desta crise sobre o Tibete, achei imensa piada ao facto que ao PCP (Partido Comunista Português) uns serem filhos e outros enteados. Isto porquê? O PCP, durante o Estado Novo, se debateu pela Liberdade, Democracia e Justiça Social, que sabíamos esconder a tentativa de tornar este país de uma ditadura Conservadora numa Ditadura do Proletariado, felizmente não concretizada. Mas achei imensa piada ao PCP a defender a República Popular da China, que todo o mundo sabe que não respeita os Direitos Humanos, que é uma ditadura fora do normal, com censura, fuzilamentos, torturas do pior que há, de um autoritarismo como poucas, que é tudo e faz tudo o que o PCP pós-PREC (Período Revolucionário em Curso) defende. Chegando ao cumulo de fazerem da Liberdade (aquilo que não estava nos seus planos no período conturbado de 1974 e 1975) a sua bandeira política e o 25 de Abril as comemorações de uma farsa do seu código político Marxista-Leninista, que defende uma ditadura, a do Proletariado.
É nestes momentos que se pode ler muito bem as ambiguidades de um partido que expulsa dirigentes e filiados que vão contra aos tubarões e cães de fila do Comité Central, e que não admite pluralismos e alternativas de ideias dentro do mesmo círculo ideológico. Este texto é só uma ressalva na hipocrisia e no fechar de olhos de uns aos seus “familiares” políticos, e das contestações a processos relativamente mais transparentes, que essa gente faz. Tenho dito e não retiro uma palavra.

Kosovo: o (país do) lóbi

Quase dois meses após o Kosovo se auto-intitular independente, à revelia das Nações Unidas, e depois de se observar as reacções que se desenrolaram neste período conturbado que medeia Fevereiro até hoje, resolvi expressar a minha opinião.
Primeiro, sou contra a independência do Kosovo, pois representa a criação de um Estado sem pernas para andar, com uma péssima economia (se é que se pode chamar economia a aquilo), uma taxa de desemprego de 1/3 da população activa, falta de habilitações na generalidade da população e sem as infra-estruturas sociais e mecânicas de subsistência.
Além de que a população do Kosovo não é kosovar mas sim albanesa, isto é, não são originários de lá. Em ponto de comparação, imaginem que há um êxodo maciço de pessoas da Andaluzia para o Algarve, e que depois de umas poucas décadas querem tornar o Algarve independente. Faz sentido? Não, mas é aí que reside o problema, é o que se passa exactamente na Sérvia, e eu estou do lado dos Sérvios nesta questão.
Espanha resolveu, e bem, não reconhecer a jovem república por conhecer bem o problema que representa esta acção independentista, e Portugal, que ainda não se pronunciou, deveria fazer o mesmo, não só por solidariedade para com a Sérvia e com Espanha, mas porque poderá eventualmente ter no futuro problemas do género, talvez a médio prazo.
Acho que a Sérvia foi injustiçada, talvez ainda por uma vingança sobre o que se passou à 15 anos, mas a História já se encarregou de fazer justiça, pois as humilhações que a Sérvia já sofreu, pagam o que se passou, assim como a Alemanha foi humilhada após 1945. Na tentativa de estabilizar uma região, os países Europeus e os E.U.A. geraram um novo problema. Em vez de se separar, a solução devia ter passado por integrar, e essa integração só fazia sentido num único quadro: a União Europeia.
Esta questão faz levantar uma outra: no contexto internacional faz sentido esta fragmentação generalizada? Eu acho que não. É um sintoma que o mundo não vai bem. Não defendo Impérios ou super-potências (do tipo União Soviética), mas sim federações e confederações, uma simbiose que permite identidades culturais asseguradas, mas que no entanto se trabalha para o bem comum, através de complementaridades de valências.
É esta a ideia que Espanha defende, a de uma federação de regiões autónomas ou muito próximas disso, que tem sido bem sucedida (com alguns percalços extremistas), sendo actualmente um país rico, que no entanto tem focos de instabilidade provocados por gente que não entende que não é com cisões que o mundo melhora, mas sim com alianças e pactos de irmandade.
Este pensamento é importante no quadro geopolítico que se avizinha, pois é importante estarmos mais unidos que nunca, em vez de perpetrarmos guerras bairristas que em vez de benefícios, só prejuízos trazem.

Ventos que podem ser de Tempestade

Olhando o mundo como o vejo hoje, acho que a humanidade, nomeadamente o Ocidente, está prestes a colher a tempestade que semeou em ventos depois do 2º Pós-guerra. A tentativa de democratização de sociedades que sabemos que ainda estão a algumas gerações de atingir o patamar mínimo de iluminação (a nível de valores e ideias que reforcem os direitos humanos, democracia, liberdade e fraternidade), que se verificou ser um autentico desastre, cujas dimensões reais ainda não vimos na sua generalidade; os direitos humanos que são falsamente aplicados por esse mundo fora.
As ideias ocidentais, decorridos dos processos de globalização ocidentais, que realizados segundo uma perspectiva excessivamente liberal, não super-visionados e pós-colonialistas, foram mal geridos, por ausência de Ata-turk’s (n sei se é assim k se escreve) e outras personagens históricas de semelhante elevado valor, ou por despreocupação por parte das antigas potências, irão gerar ainda muitas vítimas de fomes, guerras injustificadas, que cada vez mais surgirão nos nossos telejornais e manchetes.
Não quero com isto dizer que seja a favor do apedrejamento até à morte de uma mulher muçulmana que cometeu adultério, ou que colabore com aquilo que se passa actualmente no Tibete, Darfur e Birmânia, nada disso, apenas acho que se nós, ocidentais, 150 anos depois das Luzes vimos cometer no próprio velho continente extermínios em massa e 50 anos depois conflitos étnicos bem próximos da nossa esfera geopolítica, com que direito é que podemos exigir a países que saíram de um longo período medieval até à pouco mais de 80 anos, aplicarem os códigos éticos e morais de uma civilização que 200 anos depois do iluminismo ainda não sedimentou os seus verdadeiros ideais?
Resultado: ingovernabilidade, instabilidade social, guerras civis, doenças, fome e morte, um longo e penoso calvário para povos que a única coisa que querem é subsistir apenas, sem problemas. Quando digo este discurso todo, quero dizer que se tem de repensar bastante bem o modelo de diálogo com África e Oriente, especialmente com o mundo árabe, que vive em estado de ebulição, que se poderá transformar num problema mundial a curto/ médio prazo, caso não se mudarem determinadas políticas.
A única coisa que peço é uma reflexão aprofundada sobre se faz sentido caminharmos para um futuro conflito civilizacional gravíssimo, ou se podemos reformar ideias e estratégias, fomentando um verdadeiro diálogo, no sentido de chegarmos à concórdia.

terça-feira, 1 de abril de 2008